“Eu não sofri racismo na escola, na feira, no ônibus, mas foi no mundo corporativo. Quando ingressei nesse ambiente em 2005, o tema de diversidade era pouco falado”. Essa afirmação é de Liliane Rocha, autora do livro Como Ser Um Líder Inclusivo, da Scortecci Editora. Lançado em outubro do ano passado, a publicação surge como uma proposta para contribuir com a construção de uma sociedade mais justa e uma empresa mais competitiva com base na valorização da diversidade.
Em 94 páginas, o livro traz numa linguagem leve e acessível em seus 14 capítulos. A autora traz dados, narra situações e até sugestões do dia a dia de gestão. Os temas abordados nos capítulos foram homem cordial, a importância do valor compartilhado, gênero, racismo, preconceito, contradições do valor humano com recurso monetário, até dicas de como atingir a diversidade de forma mais expressiva em diferentes ambientes.
Liliane Rocha é fundadora e CEO da Gestão Kairós – uma consultoria de sustentabilidade e diversidade. Mestre em políticas públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com MBA executivo em gestão da sustentabilidade pela FGV e extensão em gestão responsável para sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral. Possui experiência na área executiva durante 13 anos em empresas, como: Philips, Banco Real, WalMart e Votorantim.
O livro já estava pronto há três anos. Em meados do ano passado, ela participou de um congresso global de estratégias de diversidade em Londres (Reino Unido) e no final de sua apresentação uma amiga elogiou sua fala por mostrar muitos dados da área e exemplos práticos. “Ela sugeriu escrever um livro. Já tinha escrito, mas nunca tinha lançado por causa dos gastos. Em cinco minutos, fechamos o nome do livro e com ideias aonde publicar. Quando publiquei na plataforma da Amazon, começou a repercussão. A técnica me chamou para conversar e decidimos lançar o livro”.
Empresas grandes e médias encomendaram o livro em grande quantidade para distribuir a funcionários e gestores de projetos. “O livro teve mais vazão em ambientes corporativos”, afirmou.
A autora explica que o livro é destinado a gestores empresariais e pessoas comuns interessadas pelo tema da liderança. Ela teve três anos de experiência conversando diretamente com líderes empresariais sobre sustentabilidade e diversidade. “Muitos vão passar em posição de liderança em algum momento da vida e terá que lidar com esse tema”, diz e ainda defende que em algum momento os líderes precisam aprender a lidar com pessoas diferentes deles.
O livro inicia o debate sobre o homem cordial. Ela enfatiza a importância dos gestores se abrirem para a formação de equipes diferentes contribuindo diretamente para cidadania empresarial e vantagem competitiva. Ela sugere para as empresas se questionarem: “a nossa empresa representa internamente em seu quadro de funcionários a demografia da população? Temos internamente profissionais capazes de pensar, refletir e representar todos os grupos sociais, auxiliando em estratégia de elaboração de novos produtos e serviços para os novos mercamos emergentes?”
Já os dados no livro não comprovam a cordialidade tão alta assim: em 2016, nos quadros funcionais negros eram 35,7% e no quadro executivo 4,7%, já as mulheres no quadro funcional representam 35,5% e no quadro executivo 13,6%, pessoas com deficiência eram 2,3% do quadro funcional e 0,6% do quadro executivo.
O segundo capítulo fala sobre valor compartilhado. Ela mostrou que esse conceito foi apresentado por Michael E. Porter para a academia e nas empresas em meados de 2011 e defendia que a solução das empresas está justamente nesse princípio, ele pontua que essas organizações precisam trazer a perspectiva social como estratégia de negócio. O professor da Harvard School pontua a necessidade de inovação em produtos e mercados e redefinir a produtividade na cadeia de valor. Para isso a autora fala a importância da área de recursos humanos das empresas contratarem mais negros, mulheres, pessoas com deficiência, com idades diversas, múltiplas orientações sexuais e de todas as classes sociais.
No quarto capítulo, a autora cita um novo conceito chamado diversitywashing, baseada de uma expressão bem utilizada na sustentabilidade que é greenwashing (lavagem verde) e significa uma ação que empresas realizam para maquiar os seus produtos e tenta passar a ideia de que são ecoeficientes, ambientalmente corretos e vem de processos sustentáveis, sem um planejamento estratégico consistente e eficaz da gestão ambiental e social da empresa. A autora quer dizer diversitywashing para classificar a conduta de empresas que lançam comerciais e produtos com foco nos públicos de diversidade, como: mulheres, negros, LGBTs, pessoas com deficiência, entre outros. Porém dentro dessas organizações não há um programa de gestão e inclusão de fato da diversidade.
“Se esse público enviar currículos, provavelmente não entra na empresa. Se ingressar, não acende de cargo. Os dados mostram: mulheres 70% tem curso de graduação, mas 33% acendem no quadro funcional e 13% no quadro executivo. Isso cria um paradoxo social. Se você consegue entrar, não consegue alcançar outros cargos mais altos. Você não é visto como alguém com competência”, explica Liliane.
No mesmo capítulo, a autora compartilha com o leitor sete erros contra a desvalorização humana que costumam ser cometidos por essas organizações: 1) adotam somente um grupo de diversidade para atuar, 2) faltam com a transparência, 3) mantêm o funil para contratação de diversos, 4) mantêm o teto para ascensão de diversos, 4) esquecem da governança, 6) permitem que práticas discriminatórias ocorram e 7) deixam de investir em canais seguros de escuta dos funcionários.
No capítulo 11, intitulado Valor humano valor monetário, a autora cita o relatório O valor que os colaboradores com Síndrome de Down podem agregar às organizações, de 2014, realizado pela consultoria McKinsey em parceria com Instituto Alana, em que comenta que 66% dos funcionários concordaram que as pessoas desejam trabalhar no local em função do bom ambiente de trabalho.
Atualmente Liliane ministra palestras e workshops e atua como professora dos cursos de pós-graduação em Sustentabilidade e Responsabilidade Empresarial do Senac e da extensão diversidade no marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. Ela pontua que a publicação propõe a diversidade de forma estruturada dentro das empresas com planejamento. “Espero que seja um movimento crescente e perene. Eu observo um avanço coletivo, várias pessoas estão olhando para o tema”.
Título do livro: Como ser um líder inclusivo – Fuja do diversitywashing e valorize a diversidade
Editora: Scortecci
Autora: Liliane Rocha
Valor sugerido: R$ 35,00