
O olhar de quem está investindo socialmente foi o tema da terceira plenária no primeiro dia (29/06) do Festival ABCR 2020. Para falar sobre esse assunto, foram convidados três investidores sociais, familiares e corporativos para entender a visão de quem está doando tanto durante a pandemia como em momentos de normalidade. Participaram: José Luiz Setúbal, presidente, da Fundação José Luiz Egydio Setúbal; Marcia Kalvon Woods, presidente do Conselho Deliberativo da ABCR; Renata Cavalcanti Biselli, gerente de Desenvolvimento Social do Banco Santander; e Rodrigo Pipponzi, diretor executivo da Editora Mol.
Nos dias 29 e 30 de junho, a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) promoveu a 12ª edição do Festival ABCR com o tema Ousar para Avançar. Foram mais de 150 palestrantes nacionais e internacionais para participar de 90 sessões paralelas, sete plenárias e três masterclasses. O formato foi totalmente digital. Esta edição celebra ainda 20 anos de trajetória da ABCR.
Renata disse que a tomada de decisão e processos burocráticos foram rapidamente agilizados para destinação dos recursos incentivados com uma grande campanha de doação para custear toda equipe e captação dos projetos. Entre clientes e funcionários, conseguiram captar 3,9 milhões de reais. Também houve programa de voluntariado dos funcionários com idosos para socializar em período de pandemia. Foi feita parceria entre bancos Bradesco, Santander e Itaú com doação de 500 milhões de testes rápidos e 15 mil máscaras no projeto Heróis usam máscaras. As costureiras foram geridas pela Rede Mulher Empreendedora.
A gerente de Desenvolvimento Social do Banco Santander também compartilhou que foram destinados 20 milhões de reais para compra de tomógrafos e tiveram parceria com Telefônica para doação de respiradores. Na edição especial do Amigo de Valor, 25% dos funcionários conseguiram captar 3,5 milhões de reais e o banco dobrou o valor a cinco organizações que estão atuando com casos de alta complexidade: duas no Rio de Janeiro e três em São Paulo. Contou ainda que os projetos financiados antes da pandemia se mantiveram.

José Luiz já falou que a Fundação não depende de projetos incentivados e tem como estratégia fazer projetos e em geral procura parcerias com universidades e iniciativas privadas e equipe da organização seleciona os projetos que deseja atuar. No caso da pandemia, o conselho da fundação fez uma decisão de extra orçamentária de fazer um aporte de um milhão de reais de seis a oito meses para ações humanitárias, para contribuir com doação de cestas básicas e ajudas de população de rua, povos indígenas, população vulnerável em geral. A única ação na área de saúde foi com as Casas de Misericórdia do Brasil.
Rodrigo falou sobre o negócio social Mol e como buscaram canalizar os recursos destinados a projetos no combate ao Covid. Em um dos editais da revista Sorria, prorrogou prazo de entrega de projetos. Reverteram 50% da verba para destinar a Comunitas na compra de equipamentos de hospitais, em torno de 350 mil reais. No projeto em parceria com a empresa Petz no fim do ano passado, tiveram doação de 280 mil reais para três a quatro organizações de proteção animal direcionando a compra de ração para 47 diferentes organizações. “O momento pediu agilidade no destino de recursos”.
O administrador atua também como conselheiro do Instituto ACP e investidor em startups do ecossistema de negócios de impacto. Comentou sobre a iniciativa Família apoia Família para contribuir a grupos familiares que perderam seus recursos por conta da pandemia. Foram três fases: 1º) captação dentro da família e 2º) captação com famílias próximas e conseguiram levantar em torno de três milhões de reais. Criaram um projeto dentro da plataforma Benfeitoria para doar e canalizar esses recursos a organizações sociais instaladas dentro das comunidades. Foram 80 organizações conectadas e quase bateram 10 milhões de reais. “A resposta foi bem rápida. De um lado tentamos apoiar as lideranças do terceiro setor e de outro vimos movimentos de apoio de cooperação, apoio corporativo, individual e outros”, observa.
Renata ainda pontua que tenta ter um olhar mais institucionalizado para ser melhor investido esses recursos, que atendem governos e instituições. Comenta ainda que a empresa está tentando encontrar gerentes específicos atuantes no terceiro setor. “Também é interessante abrir esse olhar, o mercado financeiro pode olhar para essas organizações”.
Já José Luiz sinaliza que o fomento de pesquisas é bem complicado. “Pouca gente faz no terceiro setor. Recebi muitas propostas para equipamentos de respiradores. Não é nossa linha de trabalho, atuamos com saúde infantil e pública e desenvolvimento de medicamentos”, esclarece. Sobre o futuro, ele analisa que virão mais doações e apoia e dá suporte para estruturação do setor na cultura de doação. Ao contrário do que todos falam, em sua avaliação, o brasileiro rico não doa o que deveria doar.
“Acho que as pessoas tomaram consciência que precisam doar e a cultura da doação talvez tenha recebido incentivo muito grande agora. Temos uma dependência da doação de incentivo, como essas empresas não terão lucro não terão o que doar. É uma direção de imposto. Ao mesmo tempo existirá um grande número de desempregados e um sentimento muito grande de insegurança. Essas pessoas ficarão menos generosas ou mais reticentes em fazer doação. Por isso avalio que terá mais doações a causas humanitárias, porque terá um problema social bem grande: pessoas passando fome”, sinaliza o presidente da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.
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